Quando falamos de tradução, a poesia é algo especialmente complexo.
Não é à toa que a grande maioria das traduções dos grandes poemas estrangeiros para o português tenha sido feita por grandes poetas brasileiros ou portugueses. Isso porque traduzir um poema não é algo simples: é preciso adequar os versos, a métrica, a rima e, tudo isso, sacrificando o mínimo possível do poema original.
O problema surge quando nos deparamos com algum poema que não possui tradução – ou que conte apenas com traduções literais – e, ainda assim, queremos compartilhá-lo. A única saída nesse caso é ousar fazer a tradução/adaptação por conta própria, pedindo, sempre, desculpas à autora.
E aqui está um de meus poemas prediletos, que traduzi para o português e compartilho com vocês:
Imortalidade
Por Clare Harner (Tradução: Christian Gurtner)
Não fique Em meu túmulo, lamentando Eu não estou lá, Eu não estou sonhando-- Eu sou os mil ventos que sopram, Eu sou os brilhantes que da neve brotam. Eu sou a luz do sol na germinada semente, Eu sou a chuva de outono que cai suavemente. Enquanto você acorda com o silêncio da manhã, Eu sou o rápido e ascendente afã De pássaros circulando silenciosos ao longe. Eu sou o dia que transcende a noite. Não fique Em meu túmulo, e chore ali- Eu não estou lá, Eu não morri.
Para os que entendem o inglês, segue o original
Immortality
Do not stand By my grave, and weep, I am not there, I do not sleep-- I am the thousand winds that blow, I am the diamond glints in snow. I am the sunlight on ripened grain, I am the gentle, autumn rain. As you awake with morning's hush, I am the swift, up-flinging rush Of quiet birds in circling flight. I am the day transcending night. Do not stand By my grave, and cry-- I am not there, I did not die.
Clare Harner nasceu em 1909 e morreu em 1977 nos Estados Unidos. Seu poema, escrito em 1934, foi plagiado e alvo de controvérsia quando Mary Frye, após o poema ficar famoso pela leitura de John Wayne em 1977, afirmou ser ela a autora com uma versão sutilmente modificada.