Era uma fria manhã de outubro quando o telefone do quarto do hotel tocou. Eu olhava distraído pela janela do quinto andar enquanto sentia o cheiro do café que vinha do Frühstückswagen que o serviço de quarto estava deixando na antessala.
Mais impaciente que eu, o garçom me alertou que o aparelho tocava. “Danke”, eu disse enquanto caminhava para a mesinha de telefone para atender. Deixei o Kindle que lia ao lado dos três alemães que eu trouxera impressos: Schopenhauer, Nietzsche e Goethe. Os imaginei olhando com estranhamento para aquela figura bucólica e despretensiosa, mas cheia de potencial, que foram obrigados a tolerar. Atendi o telefone.
- O senhor recebeu uma mensagem aqui na recepção - disse o homem de educada e fria voz do outro lado da linha - no entanto as instruções são para que o senhor receba em mãos.
Mensagem? Naquele hotel? Quem poderia sequer me conhecer ali? A curiosidade, como uma companheira eterna, me transportou até a recepção - mesmo eu estando com o tempo contado para pegar o trem que partia às 10h.
- A mensagem, senhor, está no exato mesmo estado que me foi entregue - explicou o recepcionista da voz fria e educada, mas que, dessa vez, parecia era estar justificando o estado em que se encontrava o pequeno pedaço de papel que ele me entregava.
Era exatamente isso: um pedaço amassado de papel que fora arrancado de algum bloco de notas e dobrado duas vezes. Mas antes que começasse a desdobrar, o recepcionista me informou:
- Foi uma das mulheres mais bonitas que eu já vi nesse hotel. E note que tenho mais de 20 anos de serviço aqui.
Provavelmente ele fez esse comentário amistoso entre homens deduzindo o que seria aquele bilhete - o que me fez pensar se ele já havia lido o conteúdo. Mas logo concluí que não. Ao desdobrar o papel, me vi diante de uma intrigante surpresa:
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